Após o atentado contra a vida de Francisca Nascimento, Coordenadora Geral do MIQCB, no último dia 03 de março diversas organizações e movimentos sociais se mobilizaram para a realização de um ato público que desse vistas à violência e os conflitos existentes no campo. Como forma de sensibilização e denuncia o Ato será um alerta as problemáticas do Território dos Cocais.

Por MIQCB

No próximo dia 17 de março, São João do Arraial, 240 km de Teresina (PI), será palco de um ato solidário no combate à violência, principalmente, contra a Mulher. O protesto será também contra os conflitos pelo território que têm como principais vítimas; os povos e comunidades tradicionais. O último atentado foi contra a vida da coordenadora geral do Movimento das Quebradeiras de Coco do Brasil, Francisca Nascimento. A concentração acontece  partir das 9h da manhã na praça central do município e representantes de mais de 15 instituições confirmaram presença.

O ato solidário demonstra a união de todos aqueles que atuam em prol  do bem viver. As instituições que apoiaram o MIQCB- Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco, assim como o próprio movimento, representam uma sociedade politicamente ativa. Atuam de maneira organizada e solidária, compartilham vivências, conhecimentos e combatem, principalmente, a desigualdade social, grande impulsionador da segregação social, cultural e econômica. Elas são responsáveis em produzir pressão direta ou indireta no corpo político de um Estado.  “O MIQCB saiu fortalecido, eu sai fortalecida. Ninguém avança sozinho, precisamos uns dos outros, auxiliando-nos mutuamente. Agradeço a todos por este ato solidário”, enfatizou Francisca Nascimento.

Mais de uma centena de instituições encaminharam e assinaram Notas de Solidariedade à Francisca Nascimento, coordenadora geral do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB). No início de março, no mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, ela sofreu uma tentativa de homicídio em São João do Arraial, no Piauí.

Sobre a violência sofrida

No dia 03 de março, Francisca Nascimento, foi abordada por uma vizinha (que nunca concordou com as ações do MIQCB). Ela parou a coordenadora geral do em frente a sua casa questionando-a sobre um pagamento de uma cerca, retirada durante mutirão comunitário para que mais de 20 comunidades tivessem acesso ao açude Santa Rosa. Francisca informou que a decisão foi tomada pela comunidade e que qualquer dano fosse cobrado na Justiça. O esposo da vizinha surpreendeu Francisca, vindo por trás e armado com uma faca. Francisca se defendeu como pôde e conseguiu se desvencilhar e fugir com a sua irmã, na garupa da moto.

As ameaças começaram ano passado, quando a comunidade (maioria de quebradeiras de coco babaçu) se organizou e reconstruiu uma fonte natural de água: o açude Santa Rosa, destruído pelo próprio fazendeiro. A quantidade de pessoas no mutirão comunitário não intimidou um casal (moradores da região e orientados pelo que se diz dono da terra) de permanecerem no local da reconstrução ameaçando várias vezes o grupo.  Na ocasião, o açude foi totalmente reconstruído e após cheio atenderá mais de 20 comunidades. A CF de 1988 garante a preservação do modo de vida e acesso aos meios de proteção e defesa de seus direitos étnicos e territoriais. A permanência dessas famílias, a maioria quebradeiras de coco babaçu, nas comunidades da região dos Cocais, além da coragem e determinação, é a única maneira de usufruírem do bem viver.

O MIQCB vem se destacando na região dos Cocais, no Piauí, como movimento de resistência aos grandes latifundiários que se dizem donos das terras. Foram várias as ações desenvolvidas pelo MIQCB com o apoio das comunidades no intuito de garantir o acesso a bens essenciais como água e a coleta do próprio fruto nos babaçuais, que mesmo sendo mata nativa, encontram-se cercados pelos fazendeiros e vigiadas pelos jagunços.

As comunidades dos Cocais, no Piauí, não se calaram. Desde novembro de 2017, a população arregaçou as mangas e exerceu um direito assegurado pela Constituição Federal aos povos e comunidades tradicionais que tiram do território sua própria existência, não só da sobrevivência física, mas, toda uma reprodução de vivência cultural e de modo de vida. A CF de 1988 garante a preservação do modo de vida e acesso aos meios de proteção e defesa de seus direitos étnicos e territoriais. A permanência dessas famílias, a maioria quebradeiras de coco babaçu, nas comunidades da região dos Cocais, além da coragem e determinação, é a única maneira de sobrevivência.

A reconstrução do açude Santa Rosa é um exemplo de que a sociedade organizada e mobilizada encontra soluções viáveis para conflitos que envolvem disputa pelo território e pela água.

Programação Ato Solidário – São João do Arraial

8h –  Concentração na praça dos Cocais- Café solidário

9h – Mística de abertura

9h30min – Abertura oficial explicando o objetivo do Ato.

10h –  Leitura da Carta denunciando violências na reunião

11h –  Fala das autoridades presentes com encaminhamentos.