Documentário produzido pelo MPT e OIT é lançado no Piauí e apresenta a história de mulheres artesãs que mudam de vida utilizando a palha de carnaúba.

Por MPT PI

Documentário produzido pelo MPT e OIT conta a trajetória de 28 agricultoras de dois municípios do Piauí onde, em 2016, ocorreram casos de trabalho análogo à escravidão. Hoje essas mulheres produzem bolsas e objetos de decoração vendidos no Brasil e no exterior.

São Paulo, 04 de abril de 2024 – O documentário “Entre tranças e tramas: a revolução artesanal das mulheres da carnaúba”, produzido pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e pela  Organização Internacional do Trabalho (OIT) será lançado em São Paulo, no dia 4 de abril, na Casa Gabriel, localizada na Alameda Gabriel Monteiro da Silva, 2.906.

O documentário mostra a trajetória de 28 mulheres, com idades entre 18 e 70 anos, quase todas pequenas agricultoras, que vivem em duas cidades no interior do Piauí, Campo Maior e Piripiri, onde a extração do pó da palha da carnaúba é a principal atividade econômica. Da vida no campo para o mercado da moda brasileiro e internacional, a trajetória desse grupo de mulheres até parecia improvável.

“A carnaúba é minha vida. Nasci e cresci vendo a folha de carnaúba como fonte de renda”, diz Sandra Gomes, agricultora e artesã de Campo Maior.

Árvore da vida

Também chamada “árvore da vida”, a carnaúba é uma palmeira nativa e exclusiva do Nordeste brasileiro. Da árvore, tudo se aproveita: suas raízes são de uso medicinal; sua folha é utilizada na produção de artesanato; e a palha seca (bagana) serve como adubo orgânico de excelente qualidade. Da palha também é extraído ainda o pó da carnaúba, que transformado em cera é amplamente utilizado nas indústrias alimentícia, automobilística e de cosméticos, nacional e internacional.  Por isso, a palmeira tem grande valor ambiental, social e econômico.

A carnaúba faz parte da paisagem e da subsistência da população rural de Piripiri e de Campo Maior.

O Plano

Em 2016, em um cenário marcado por casos de resgates de trabalhadores em condições análogas à escravidão no campo, e pela ausência de alternativas de geração de renda na entressafra da carnaúba nessas duas cidades, um desafio se apresentou: organizar os agricultores em cooperativas para que vendessem o pó da carnaúba diretamente aos fabricantes da cera, eliminando atravessadores que pagavam valores irrisórios, e criar alternativas de geração de renda, tendo como prioridade o artesanato do trançado da palha da carnaúba, um saber ancestral fadado a desaparecer devido à falta de apoio local para sua produção e à inexistência de canais de comercialização.

Assim, em 2020, nasce o “Plano de Promoção do Trabalho Decente na Cadeia Produtiva da Carnaúba”, lançado pela OIT e pelo Ministério Público do Trabalho, para promover melhores condições de trabalho e a justiça social para os agricultores e as agricultoras desses dois municípios.

Em uma parceria entre a OIT, o Sebrae-PI e a agência de fomento alemã GIZ, dois grupos de mulheres de Campo Maior e de Piripiri receberam treinamento em artesanato, com o objetivo de reaprender a técnica ancestral do trançado da palha da carnaúba. Posteriormente, elas passaram por outros quatro ciclos de treinamento, com o propósito de desenvolver uma coleção de bolsas, cestaria e objetos de decoração autorais.

“Essas oficinas foram um resgate de tudo o que a gente já fazia, mas dando nova roupagem, trazendo um novo olhar. Porque antigamente uma bolsa de palha só servia para a praia, né? E hoje, se bem-feita, com criatividade, pode ser usada em qualquer lugar”, explica Elisângela Pereira da Silva, líder das artesãs.

A consultoria NORDESTESSE foi selecionada para ajudar no processo de aperfeiçoamento das peças, visando a inserção no mercado de artesanato nacional. Para isso, detalhes em coco, talo de carnaúba e mucunã foram acrescentados às bolsas e aos cestos, sendo hoje marca registrada dos produtos.

Coube também ao NORDESTESSE criar marcas e definir a identidade visual de cada um dos grupos, assim como preparar suas integrantes para a comercialização dos produtos online e em feiras de artesanato locais, regionais e nacionais. As artesãs passaram por curso de precificação ministrado pelo Sebrae-PI, e também aprenderam as diferenças entre os mercados de varejo e atacado, estando hoje aptas a atuarem nos dois modelos de negócio.

Curicacas e Natupalha

Atualmente a produção de cestos e bolsas está consolidada, com design e identidade próprios. O grupo de artesãs de Piripiri recebeu o nome de Natupalha, e o de Campo Maior, Curicacas, pássaro muito comum na comunidade do Resolvido, na zona rural, de onde vêm a maioria das artesãs. Os dois grupos foram treinados para criar e administrar suas redes sociais e e-commerce, e hoje cada um tem seu Instagram (@usecuricacas e @natupalha).

Cada grupo tem uma linha de bolsas e outra de objetos de decoração, que já estão sendo comercializados em feiras de artesanato, como FENEARTE, Mãos de Minas e Fenacce. Os itens de decoração das Curicacas também são vendidos a lojistas de todo o país, através do showroom Alma Brasileira, localizado na Barra Funda (SP), de Cris Rosembaum.